Em 1970, eleito democraticamente pelos chilenos o presidente Salvador Allende, tinha em sua plataforma de governo propostas voltadas a atender as necessidades do povo chileno. Logo após a posse, nacionalizou bancos, empresas estrangeiras e as minas de cobre e, deu início a uma reforma agrária. Além das reformas sociais, o Chile sob a presidência de Allende havia recepcionado brasileiros que se exilaram após o golpe de 1964 no Brasil, entres estes, vários políticos e professores brasileiros, devido às perseguições nos primeiros anos da ditadura no Brasil. Nomes como os de Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Herbert José de Sousa (Betinho) estão entre esses nomes. As medidas tomadas pelo governo de Salvador Allende desagradou às elites econômica chilena, que procurou vários meios para sabotá-lo, além de receber sanção norte-americana e a queda do preço do cobre chileno no mercado internacional. A oposição ao governo de Allende recebeu apoio da CIA, agência de inteligência estadunidense, para impedir as reformas propostas pelo governo, levando a economia chilena entrar em crise, causando problemas no abastecimento de mercadorias.
Outro grupo que se opôs ao governo Allende foram alas conservadora e de extrema-direita dos militares, que apoiados por organismos internacionais, se mobilizaram para tomada do poder e a implantação do regime ditatorial chileno. O golpe contra o presidente eleito Allende aconteceu em 11 de setembro de 1973, quando militares sob o comando do chefe do exército chileno, o general Augusto Pinochet, bombardearam o Palácio La Moneda, sede do Poder Executivo do Chile. O presidente Allende não se rendeu aos ataques golpistas e suicidou-se dentro de seu gabinete, embora, mesmo após o encerramento das investigações sobre seu assassinato terem concluído que fora suicídio, muitos pesquisadores ainda acreditam na possibilidade de homicídio.
A ditadura chilena impôs a povo, retrocessos econômicos e políticos. Na economia, a ditadura adotou medidas contrárias às adotadas por Allende, reduzindo o tamanho do estado, implantando medidas liberais, diminuindo a presença do Estado e abrindo espaço para o capital privado e, principalmente, empresas estrangeiras. O governo militar chileno promoveu a redução drástica dos gastos públicos, a privatização do ensino superior e aumentou a carga tributária, inclusive, mudanças no sistema de previdência dos trabalhadores.
Mas foi na política os efeitos mais drásticos, com a implantação do terror estatal, que levou mais de 40 mil pessoas a prisão, sendo torturadas, e mais 3.200 foram mortas devido à violência sofrida, segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação. Essas violações aos direitos humanos eram praticadas e o governo se esforçava para esconder, sendo denunciada pelos chilenos que conseguiram fugir do país e do regime de Pinochet. A tática das ditaduras militares na América do Sul, incluindo o Brasil, alinhadas com os Estados Unidos e, na década de 1970, esses países organizaram a chamada “Operação Condor”, em que os governos militares trocavam informações sobre opositores e utilizavam a tortura como meios para que os presos políticos entregassem seus colegas.
Em 1980, ocorreu o início da retomada democrática no Chile que se deu com a promulgação de uma nova constituição e, somente em 1988, foi que os chilenos foram as urnas em um plebiscito, onde a maioria opinou pelo fim da ditadura e pela convocação de novas eleições em 1999. No ano seguinte, Patricio Aylwin foi o primeiro civil eleito desde o golpe contra Salvador Allende e iniciou seu mandato em 1990. O general Augusto Pinochet, deixou a presidência, mas se tornou senador vitalício. Embora tenha respondido a diversos processos por crime contra direitos políticos e corrupção durante os 17 anos de ditadura chilena, utilizando como artificio atestado de debilidade mental, morreu sem ser condenado ou punido pelos seus crimes cometido durante seu governo.
Edson Gomes: Historiador e jornalista
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